É por eles que vale a pena trabalhar...

Gostaria de partilhar algumas experiências que temos vivido no Futuro Pensado.

Em Dezembro de 2006, já próximo da hora do fecho, recebi uma senhora no Centro, de nome X. Vinha de uma reunião com a directora de turma do seu filho, o F. Com as lágrimas nos olhos apresentou-me a ficha de avaliação do 1º Período, na qual constavam as classificações atribuídas nas diferentes disciplinas.

Recordo-me que o F., um aluno inscrito no 8ºano e sem registo de qualquer retenção ao longo do seu percurso escolar, tinha 8 negativas. Na quadrícula referente às observações não existia qualquer registo. Nada, absolutamente nada!
Questionei a mãe sobre um plano de recuperação, se tinha aulas de apoio na escola, se em anos anteriores a transição do F. tinha estado em dúvida. A mãe não tinha respostas para os resultados do F. e dizia:

-Eu saí da escola e senti necessidade de apanhar ar, aqui na esquina virei para este lado, nunca faço este caminho, mas hoje fiz. Olhei para a vitrina e vi este centro. O nome chamou-me a atenção: Futuro Pensado, é isso que eu preciso. Preciso de alguém que me ajude e ajude o F. para que possa recuperar as negativas que tem.

Como estávamos em férias do Natal sugeri à mãe que o F. participasse nas actividades de férias, para que nós pudéssemos fazer uma avaliação diagnóstico, sobretudo nas disciplinas de matemática e língua portuguesa.
Assim foi.

O F. revelou-se uma criança com um elevado desenvolvimento moral, amigo do seu amigo e muito dado às questões e valores humanos. No que se refere à escola, o maior problema do F. era não assumir as suas dificuldades a quem o está a ensinar. Numa fase posterior do trabalho que desenvolvemos tivemos a nítida percepção de que ele não dizia claramente ao professor:" não percebi", para não o magoar. Escusado será dizer que deixámos de perguntar ao F. se ele estava a perceber, após qualquer explicação ele tinha de aplicar o que tinha aprendido, permitindo-nos avaliar se tinha compreendido ou não.

Foi um ano difícil. A escola não teve abertura para trabalhar em parceria connosco e nós fomos tentando corresponder às exigências. No 2º Período teve 4 negativas e no 3º período passou para o 9º ano sem qualquer favor.

Durante o 3º período a mãe começou a pensar se deveria mudar o F. de escola. Pesavam vários factores: o F. estava naquela escola desde a creche, mantinha os mesmos amigos desde essa altura, no entanto a escola não arranjou soluções quando as coisas começaram a correr mal, o que lhe provocou uma enorme desilusão.

Perguntou-me a minha opinião, se eu achava melhor a saída do F. para outra escola da cidade. São vários os pais que me pedem opinião. Eu nunca dou! Opto por dar informações sobre as vantagens e desvantagens das diferentes escolas, e com base nessa informação os pais terão de decidir o que pensam ser melhor para os seus filhos.

A mãe do F. optou por pedir a sua transferência para outra escola. Uma escola com mais alunos, menos condições físicas mas, em minha opinião, com um nível de exigência superior. Para o F. foi, possivelmente, o sair do ventre da mãe e respirar sem ser pelo cordão umbilical, com tudo o que isso possa ter de bom e de mau.

O F. adaptou-se muito bem à nova escola, aos novos amigos e às suas novas responsabilidades. Não posso dizer que tenha sido um aluno brilhante, foi necessário um enorme esforço a português e matemática, no entanto a partir do 2º Período foi um aluno que considerámos ter grande probabilidade de transitar ao ensino secundário, o que se veio a confirmar.

Ao longo destes 2 anos estabeleceu-se uma relação muito próxima entre nós, o F. e os seus pais. Em Maio último voltaram a reunir comigo. Vieram para me dizer que o F. já tinha escolhido uma escola para tirar o ensino secundário: uma escola profissional em Sacavém. Queria tirar o curso de electrónica de mecânica. Fiquei muito feliz por todos, pelo F. que neste ano cresceu muito, tornou-se responsável e quer tomar o leme da sua vida fazendo opções acertadas, pelos pais porque cumpriram uma etapa da vida do seu filho e por nós, por vermos reconhecido o nosso trabalho e sobretudo porque contribuímos para o sucesso do F.

Por que é que me lembrei de escrever este texto hoje?
Porque hoje saíram os resultados dos exames nacionais de 9ºano! O F. obteve classificação 3 nos dois exames: Português e Matemática.
Parabéns meu querido!

Paula