sábado, 29 de agosto de 2009

A nova geração de pais!

Não tenho idade para ter conhecido o Portugal das colónias, da ditadura, da censura. Os meus 30 anos apenas me permitem olhar Portugal no pós 25 de Abril, mas neste período de tempo foram muitas as mudanças.
Recordo-me dos anos 80, a minha entrada na escola em 84. Os juros dos empréstimos à habitação que eram elevadíssimos. O meu pai ganhava 27 contos e pagava 25 pelo empréstimo de 2500 contos. Os Verões eram passados numa aldeia próxima de Tomar. Se há odor que caracteriza a minha infância é o cheiro a queimado. Os meus avós tinham muitas propriedades, pinhais, olivais, eucalipais,... o seu ganha pão. Quando a sirene tocava saíamos de casa e olhávamos o céu para adivinhar de onde vinham as chamas. Com baldes e mangueiras molhávamos a casa e rezávamos para que o fogo não nos atingisse ou às propriedades.
Os anos 90 foram de prosperidade. Os incentivos dos empréstimos à habitação, a possibilidade de comprar carros às prestações. A Expo 98. Construir, construir, construir. E não esquecer, o telemóvel e a internet, nessa altura só para alguns! O êxodo do interior para o litoral já se tinha verificado nos anos 70/80. A sua motivação: lutar por um futuro melhor. Sem escolaridade, tentaram aprender uma profissão. Através do trabalho, da humildade, da paciência, da honestidade. Ter só o que se pode ter, vulgo pagar a pronto. Honrar os compromissos. Valores que caracterizam essa geração.
Nós, os filhos desses pais lutadores, pudemos estudar. Dar-nos ao luxo de começar a trabalhar aos 23/24 anos. Tirar a carta de condução aos 18 anos, comprar roupa a cada estação de acordo com as modas.. E depois a vida adulta.
É esta a nova geração de educadores do século XXI. A geração dos senhores doutores. A geração engravatada que não quer sujar as mãos. Dificilmente se encontram mecânicos, canalizadores, pedreiros, serralheiros com 30 anos. Os valores do esforço, da honestidade, da honra na palavra, foram substituidos pelos valores da espertisse, da aparência e dos 30 cartões que aumentam o volume da carteira.
E esta geração tem filhos!
Lembremo-nos sempre que a criança aprende pela repetição dos seus modelos.
Não vale a pena querer que a criança coma a sopa, o prato e a fruta, se nós ao lado, comermos hamburgueres e pizzas.
Não vale a pena querermos que a criança tenha respeito ao professor, se nós em família comentarmos, à sua frente, que o professor é maluco e não sabe o que diz.
Não vale a pena exigirmos esforço, se a recompensa se atribui com ou sem resultado.
Nós, a nova geração, temos a obrigação e a responsabilidade histórica de ser melhores educadores que os nossos pais. E, com toda a sinceridade, não sinto que o estejamos a ser.
Vale a pena pensar nisto!

Paula Pousinha Luís

Sem comentários: