quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Centros de Estudos: que futuro?




Os jornais, rádios e televisões informaram os portugueses de que o insucesso e o abandono escolar diminuíram significativamente nos últimos três anos. Facto que o poder central justificou com o plano nacional da matemática, um maior número de aulas de estudo acompanhado, um maior número de horas que os professores passam na escola e uma maior diversidade de opções, sobretudo os cursos de educação e formação.
Seria interessante avaliar o impacto que estas notícias têm na dinâmica das famílias. Perceber se os índices de confiança na instituição escola aumentaram, se os pais continuam a achar que os professores são uma classe profissional privilegiada, se os alunos pensam que precisam de se esforçar menos para passar de ano, se os pais e os alunos pensam que têm (maior) influência sobre as decisões pedagógicas do professor.
Enquanto directora pedagógica deste Centro (Futuro Pensado) questiono-me inúmeras vezes sobre a posição que estas empresas têm no mercado. Como qualquer empresa tem de gerar receita. Para isso, é crucial que existam serviços e interessados nesses serviços. Ora os serviços têm necessariamente de ter um valor acrescentado em relação à escola. Nesta reflexão existem dois elementos determinantes que não podemos esquecer: a escola passou a ser mais dinâmica e tenta colmatar as necessidades dos alunos, o mercado das explicações é um espaço desacreditado, pelo facto de todas as pessoas se considerarem capazes de ser professores/explicadores e existir uma elevada taxa de desemprego na classe.
Considero que empresas como a que dirijo só têm espaço no mercado se constituírem elas próprias uma fonte de enriquecimento para o aluno e não, tão somente, uma estratégia para conseguir corresponder às exigências da escola; ou seja, é importante que os pais percebam que mais importante do que o seu filho passar é que ele saiba escrever, saiba argumentar, saiba estruturar conhecimentos e aplicá-los de uma forma transversal, competências que não são passíveis de ser solidamente adquiridas num ensino em massa, que se guia por resultados estatísticos e em que, pela necessidade de impor normas sociais anteriormente não mensuráveis, passou a atribuir um enorme peso à componente psicossocial (atitude, comportamento na sala de aula, ...) e aos trabalhos de grupo, em detrimento da componente cognitiva. De que vale ter o 9º ano se não sabe escrever?
A vida tem-me possibilitado ouvir muitos pais. São tão diversificados quanto são os alunos. Eu acredito e quero sempre acreditar que todos os pais querem o melhor para os seus filhos. Consigo avaliar o quanto deve ser difícil para um pai, cujo filho tem inúmeras negativas, participar em conversas em que outros pais elogiam os feitos dos seus rebentos; o quanto deve ser humilhante (na sociedade egoísta em que vivemos) dizer o meu filho ficou retido. Mas acreditem pais, há situações em que a transição não é a melhor opção. Não vale a pena um aluno transitar de ano se durante todo esse ano teve negativas nos testes de matemática ou português. Isso significa que em algum momento da sua vida o facto de não ter adquirido/consolidado essas aprendizagens vai ser um factor limitante nas suas escolhas.
O apoio escolar é um serviço que deve ser feito na base e não no topo. No ensino secundário pouco há a fazer. Não é possível interpretar se não sabe ler, não é possível argumentar, articular aprendizagens, expor ideias, se não sabe escrever. O Futuro Pensado procura consolidar as competências de base, para que o aluno, caso queira, possa chegar mais longe e, sobretudo, para que as decisões dos nossos alunos, em relação ao seu futuro, sejam uma opção entre várias e nunca a única possível. Vocês, pais e alunos que me conhecem, sabem do que estou a falar!

Paula

Sem comentários: