segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Atenção descontínua...


Há algum tempo que não escrevo no Blog!
Não tenho tido oportunidade, sobretudo porque gostaria de escrever algumas palavras sobre uma reflexão que tenho feito nas intermináveis filas de carros da capital.
O novo ano lectivo já começou e eu já me esqueci que ainda há 3 semanas estávamos de férias. Este ano tenho turmas enormes: 30 alunos. Não posso dizer que se portem mal, não é o caso. São alunos do Ensino Secundário e já aprenderam, pelo menos, as regras de bom comportamento.
Hoje as aulas foram particularmente interessantes, levei o computador e o projector multimédia, o que permitiu projectar animações de processos biológicos on-line. Os alunos ficaram absolutamente fascinados e o facto de tudo estar em inglês não foi limitador. A aula foi uma espécie de aula aglutinadora dos conteúdos leccionados, ou seja uma aula de consolidação de aprendizagens. Gostaria de poder acreditar que todos os alunos atingiram os objectivos minimos preconizados na unidade, no entanto, quando questionados, verifico que uma percentagem significativa dos alunos aprendeu, mas outros há que não o fez.
E agora? Continuo o programa ou volto atrás?
Para tomar esta decisão tenho de analisar porque motivo é que aqueles que não respondem correctamente às questões que coloco não sabem responder. Será que fui eu que expliquei mal? Será que foi o aluno que não esteve com atenção?
Abre-se outro ponto de discussão: o que é que é estar com atenção nas aulas? Será que é estar a olhar para o professor?
Tenho-me debatido com estas e outras questões, tendo formulado uma opinião que não deixa de ser isso mesmo: uma opinião muito pessoal sobre o processo de ensino-aprendizagem.

Quando eu estava na faculdade falava-se em tempos de mudança, de reforma das técnicas de ensino. O professor deveria dar aulas interactivas em detrimento das aulas expositivas; a avaliação deveria ser contínua em vez de se basear em momentos (testes), o professor deveria criar recursos pedagógicos, tanto quanto possível tridimensionais and so on... Tenho a certeza de que quem estiver hoje na faculdade ouve falar de uma nova mudança: a reforma introduzida pela implementação massiva das novas tecnologias da informação, as plataformas Moodle, o e-learning, os learning objects, e mais uma sem números de mudanças.
Após ter testado tudo isto, eu continuo a ter alunos que não aprendem o que eu lhes quero ensinar, que não conseguem aplicar, em contexto problema, o conteúdo que "aprenderam".
Ao ler as respostas dos meus alunos, a questões de resposta extensa (aquelas que exigem mais de 3 linhas), apercebo-me que os alunos aprendem de forma descontínua, ou seja, como se fosse uma máquina fotográfica programada para tirar uma fotografia de 2 em 2 minutos. O discurso não é fluente e perdem informação. Isto permite explicar o melhor desempenho dos alunos em questões de escolha múltipla do que de resposta aberta.

Perante esta hipótese comecei a observar melhor os comportamentos dos alunos. Apesar do seu comportamento não perturbar a aula, os alunos não são activos na sua aprendizagem. O seguimento que eles fazem da aula não é um esforço individual, mas sim o interromper da sua ausência motivado pelas oscilações vocais do professor, ou seja, os alunos estão naturalmente ausentes da aula e o professor, de uma forma sistemática, mas descontínua interrompe essa ausência. Para alguns é fácil colar os pedaços, para outros os danos são irremediáveis.
Termino referindo uma expressão pela qual tenho especial simpatia:
«Quando ouço esqueço, quando vejo lembro, quando faço aprendo»
Não há forma de aprender não sendo activo na sua aprendizagem. Perante isto o professor pode fazer muito pouco!

Vale a pena pensar nisso...



Paula

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