sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Aos nossos alunos adolescentes


"Aos quinze anos o coração já cresceu, mas ninguém repara. Não o deixam bater como devia. As crianças crescem e os adultos envelhecem. E o que faz o adolescente ? Coitadinho, não tem hipótese: adolesce. Aos quinze anos, o mal é este: nem se é tratado como adulto (como se queria) nem se é tratado como criança (o que sempre consolaria). Não se é tratado. Ponto final. Os quinze anos são intratáveis. Os mais novos - a malta do armário, enfrentado o absurdo da puberdade - não têm nada, mas nada a ver. Os mais velhos olham para quem tem quinze anos como se olha para quem tem lepra. Restam apenas as outras pessoas com quinze anos, mas essas estão demasiado ocupadas com ter quinze anos para poderem reparar nas outras almas com as quais partilham tal aflição. Só apetece chorar. É o que se faz.

Chora-se muito. Aos quinze anos tudo é muito importante. É-se uma pessoa nova pela primeira e única vez na vida e o mundo, difícil e grande, percebe-se e faz-se pesar tal e qual ele é. (A partir dos dezasseis anos já não se aguenta e finge-se que é mais fácil ou mais pequeno.) Aos quinze anos tudo é muito tudo, e é tudo ao mesmo tempo. Há muitas coisas que se querem muito e sofre-se muito por não as ter e brada aos céus o quanto se precisa realmente delas e parece impossível que ninguém perceba. E é incrível como toda a gente se junta para nos impedir de alcançá-las. E é muito triste saber que há-de ser assim durante toda a vida, que é quanto dura ter quinze anos. Mas a luta continua. Aos quinze anos, tudo é muito, simplesmente. Qual simplesmente ! Complicadamente. Tudo é muitíssimo. É preciso muito e é muito preciso. É tudo muito lindo e muito difícil e muito injusto e muito urgente e pronto - será isto assim tão difícil de perceber? (...)"

Miguel Esteves Cardoso, Os Meus Problemas

Elsa

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