A globalização alterou a dinâmica das populações. Se em tempos recentes existiam valores de comunidade, de ajuda ao próximo, de família; actualmente, com o fluxo migratório para as grandes cidades e com a importância crescente do capitalismo, surgiram novos ritmos, em que a competitividade assume um papel crucial de sobrevivência.
Seguem-se modelos nas diferentes áreas sociais, nomeadamente na educação. Defende-se um sistema educacional que preconiza a escola inclusiva, na qual todos deverão ter acesso à mesma realidade educativa, independentemente das suas diferenças físicas, cognitivas ou emocionais. Substitui-se deficiência por diferença, no entanto o preconceito existe. Em teoria, a escola inclusiva apresenta inúmeras vantagens, no entanto o sistema não permite a aplicação dos principios básicos na sua implementação. Falta a formação e informação, os recursos humanos e a união de vontades. Urge a necessidade de pensar em novas estratégias para que no todo se possam reconhecer valores individuais.
Sem rigor de dados científicos não tenho receio em afirmar que os jovens nas escolas apresentam cada vez mais sinais de baixo auto-conceito, insegurança, desmotivação e desinteresse perante a realidade escolar. Os professores (classe em que me enquadro) registam na ficha informativa dos alunos: “deve estar mais atento nas aulas, deve esforçar-se mais...” Será que é isto que devemos escrever? E nós? Professores? Talvez devessemos dar aulas através de sms, eventualmente no messenger! Vestirmo-nos de palhaços! Já estivemos mais longe! A verdade é que se usamos projecção multimédia os alunos adormecem, se fazemos exercícios eles esperam pela resolução no quadro, se optamos por um modelo interactivo eles não participam...
Confesso que para mim não há ferramenta melhor do que giz e quadro, sou inovadora porque uso giz de várias cores! Adoro dar aulas nas escadarias da escola, qual anfiteatro romano. Mesmo os alunos terríveis portam-se lindamente quando fora da sala de aula. À parte os queixumes confesso que ensinar é um prazer. Tenho sido bem sucedida mas ainda assim há um número significativo de alunos que perco em cada turma e são estes os diferentes.
Um aluno bom é sempre bom, independentemente do professor, mas existem aqueles que necessitam que se repare neles, aqueles que partem do princípio que são piores do que os outros. Se quiser estar “na pele” de um destes alunos faça o seguinte exercício: seleccione a cadeira mais desconfortável que tiver em casa, coloque-a em frente à televisão. No leitor de DVD insira um filme chinês ou russo sem legendas. Registe a hora. Sente-se na cadeira onde deverá permanecer sem se levantar durante 90 minutos. Ao fim deste tempo o que sentiu? Pode levantar-se e ir espairecer, mas só durante 10 minutos. Findo esse período de tempo deverá voltar a sentar-se na cadeira para mais uma sessão. Repita o processo por 3 vezes. Sente-se bem?... Talvez consiga compreender o que sentem os alunos diferentes, o insucesso escolar, a violência nas escolas e o abandono escolar!
É neste domínio que novas abordagens assumem um papel fundamental no sistema educativo. Há 10 anos que o ensino enfrenta a reforma das reformas, dos conteúdos, da organização curricular, da carreira docente. Por vezes quando as batalhas são muitas e a guerra dura há vários anos esquecem-se os motivos e os propósitos, o sistema fica desacreditado e moribundo.
Não deixemos que assim seja!
Paula
Sem comentários:
Enviar um comentário